Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja (16.18)
A expressão “sobre esta pedra” está relacionada à resposta de Pedro, que disse: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo.” É sobre Cristo que a Igreja foi edificada e não sobre Pedro. Jesus afirmou que Ele próprio era a pedra (Mt 21.42). A afirmação de Jesus é uma interpretação veraz do Salmo 118.22. O próprio Pedro identifica Jesus como sendo a pedra (At 4, 11, 12; 1Pe 2.4-6). Se Pedro foi papa durante vinte e cinco anos, então existe algo errado, já que o apóstolo foi martirizado no reinado de Nero, entre os anos 67 e 68 a.D. Subtraindo desta data vinte e cinco anos, retrocederemos ao ano 42 ou 43 a.D. Nessa época, não havia sido realizado ainda o Concílio de Jerusalém (At 15), que ocorreu por volta do ano 48 a.D, ou um pouco depois. Pedro participou do Concílio, mas foi Tiago quem o realizou e presidiu (At 15.13, 19).
O apóstolo Paulo escreveu sua epístola aos romanos no ano 58 a.D. e, no capítulo 16, mandou saudação para muita gente em Roma, mas Pedro sequer é mencionado. Por outro lado, Paulo chegou a Roma no ano 62 a.D. e foi visitado por muitos irmãos (At 28.30,31). E também nesse período não há nenhuma menção a Pedro ou a algum papa. O apóstolo Paulo escreveu quatro cartas de Roma: Efésios, Colossenses e Filemon (62 a.D.) e Filipenses (entre os anos 67 e 68 a.D.). Todavia, Pedro não é mencionado em nenhuma delas e, novamente, não se tem notícia do suposto pontificado de Pedro.
Devemos, ainda, considerar o texto em estudo e seu contexto:
1) Enquanto Pedro é mencionado na segunda pessoa (tu), a expressão “esta pedra” está na terceira pessoa.
2) Pedro (petros) é um substantivo masculino, enquanto pedra (petra), um feminino singular. Conseqüentemente, estas palavras não têm a mesma referência. Ainda que Jesus tivesse falado em aramaico, o original grego inspirado traz as distinções. O interessante é que até as próprias autoridades teológicas católicas concordam que a referência bíblica em estudo não está relacionada a Pedro.
O destaque aqui é para João Crisóstomo e Agostinho.
Agostinho, em seu comentário sobre o evangelho de João, escreveu: “Nesta pedra, então, disse Ele, a qual tu confessaste, eu construirei minha Igreja. Esta Pedra é Cristo; e nesta fundação o próprio Pedro construiu.” Assim, não existe fundamento bíblico nem subsídio histórico para consubstanciar a figura de Pedro como papa (Ef 2.20).
E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.
Com base nesta afirmação de Jesus a Pedro, ensina o Catolicismo Romano, que tanto esse apóstolo quanto seus sucessores foram revestidos de um poder especial e exclusivo, tornando o papado infalível.
A doutrina católica sobre a infalibilidade papal não encontra apoio nas Escrituras. Jesus, de modo algum, outorgou autoridade a outras pessoas para exercerem, de forma singular, a liderança (como cabeça) de sua Igreja. Com base em Mateus 18.15-20, Jesus estende a autoridade que concedeu a Pedro aos demais discípulos, como membros do corpo de Cristo. Esse tipo de autoridade era comum aos rabinos, que tinham o privilégio de dar “permissão” e “proibir”. Não se tratava de uma porção de poder exclusiva somente a Pedro. A Igreja também recebeu a mesma autoridade, pela qual proclamamos o evangelho, o perdão de Deus e o julgamento divino aos impenitentes. Contudo, o único que tem proeminência sem igual é Cristo, a pedra angular. Os demais crentes, inclusive Pedro, são as “pedras vivas” (v.5) nesta edificação.
O papel de Pedro, no Novo Testamento, está longe da reivindicação católica romana de que ele possuía e era autoridade sobre seus companheiros. Embora tenha sido o orador principal no dia de Pentecostes, no entanto, sua atuação no restante do livro de Atos é escassa, sendo considerado tão-somente como “um dos apóstolos”. De forma muito clara, o apóstolo Paulo falou o seguinte: “Em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos” (2Co 12.11). Será que uma leitura mais cuidadosa da carta escrita aos gálatas nos levaria a aceitar que algum apóstolo foi superior a Paulo? Claro que não. Pois Paulo disse ter recebido uma revelação (do evangelho) que não veio dos demais apóstolos (Gl 1.12; 2.2) e que o seu chamado era semelhante ao ministério de Pedro (Gl 2.8), a ponto de usar da autoridade que tinha como apóstolo para repreender duramente o próprio Pedro (Gl 2.11-14).
O fato de Pedro e João terem sido “enviados pelos demais apóstolos” a uma missão especial em Samaria demonstra que Pedro não tinha uma posição superior entre eles (At 8.4-13). Se Pedro de fato fosse superior aos demais, por que é dispensada ao ministério de Paulo uma atenção maior, fato constatado nos capítulos 13-28? No primeiro concílio realizado em Jerusalém (At 15), a decisão final não partiu de Pedro, mas, sim, dos apóstolos e dos anciãos. Além disso, foi Tiago, e não Pedro, que presidiu o conselho (At 15.13). em momento algum, já que era, segundo o catolicismo, superior aos demais apóstolos, Pedro reivindicou ser pastor das igrejas, antes exortou os presbíteros para que cuidassem do rebanho de Deus (1Pe 5.1, 2). Embora reconhecesse ser “um” apóstolo (1Pe 1.1), não se intitulou “o” apóstolo, ou chefe dos apóstolos. Sabia que era apenas “um” dos pilares da Igreja, junto com Tiago e João, e não “o” pilar (Gl 2.9). contudo, foi falível em sua natureza. somente a Palavra de Deus é infalível. Isso, no entanto, não quer dizer que Pedro não teve um papel significante na vida da Igreja.
Segundo afirma o catolicismo romano, os “sucessores” de Pedro ocupam sua cadeira. Quando, porém, analisamos as Escrituras, encontramos critérios específicos para o apostolado (At 1.22; 1Co 9.1; 15.5-8), de modo que não poderia haver sucessão apostólica no bispado de Roma ou em qualquer outra igreja.
Quanto às chaves entregues simbolicamente a Pedro, não significam que esse apóstolo tinha poder para fazer entrar no céu quem ele quisesse. Simplesmente representam a propagação do evangelho, pela qual todos os pregadores, e não apenas Pedro, podem abrir as portas dos céus aos pecadores que desejam ser salvos. Jesus foi explicito e enfático ao ordenar a divulgação das boas-novas em Lucas 24.46, 47. A mensagem de salvação produz arrependimento, por meio da fé na pessoa e obra de Cristo; ou seja, em sua morte e ressurreição. Pedro abriu as portas do céu para seus ouvintes no dia de Pentecostes (At 2.37-41) e na casa de Cornélio (At 10.42, 43).
Fonte:
Bíblia Apologética de Estudo – Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original
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