At 11.19-30; 12.25-13.3
1. Introdução – Concepções positivas e negativas acerca do ministério missionário.
A concepção de missionário na igreja brasileira tem mudado nos últimos anos, mas ainda não mudou o suficiente.
Positivamente falando, o ministério missionário é visto na igreja como um trabalho que envolve muita renúncia, e, conseqüentemente, o missionário é visto como alguém caracterizado por uma disposição incrível de renunciar. Na concepção de outros, o ministério missionário é exercido por pessoas que têm um amor a Deus um pouquinho acima da média. No entanto, como missionário, eu entendo que o nosso amor a Deus é tão falho e tão frágil quanto o amor da maioria dos crentes. No campo missionário, estamos simplesmente realizando a obra para a qual Deus nos “talhou”. De maneira que, o que fazemos não é o resultado de uma amor acima da média nem de uma capacidade extraordinária de renunciar.
Positivamente falando, o ministério missionário é visto na igreja como um trabalho que envolve muita renúncia, e, conseqüentemente, o missionário é visto como alguém caracterizado por uma disposição incrível de renunciar. Na concepção de outros, o ministério missionário é exercido por pessoas que têm um amor a Deus um pouquinho acima da média. No entanto, como missionário, eu entendo que o nosso amor a Deus é tão falho e tão frágil quanto o amor da maioria dos crentes. No campo missionário, estamos simplesmente realizando a obra para a qual Deus nos “talhou”. De maneira que, o que fazemos não é o resultado de uma amor acima da média nem de uma capacidade extraordinária de renunciar.
Negativamente falando, devido à atitude de alguns “missionários”, esse termo e ministério evoca na mente de alguns o conceito de pedinte ou mendigo que passa pelas igrejas levantando fundos para suprir as suas necessidades e de sua família. Na mente de outros, o termo missionário evoca a idéia de alguém que vive pela “fé”, mas uma fé mendicante. Para outros, esse termo ou ministério está estritamente relacionado com sofrimento, de sorte que, missionário e “sofredor” não passam de termos sinônimos. Para alguns o termo missionário traz à sua mente a imagem de uma pessoa que vivencia experiências esdrúxulas. Podemos acrescentar ainda a tudo isso, a concepção que alguns têm de missionário como aquele que é menos preparado que o pastor da igreja. O lema desses é: Como ele não serve pra ser pastor, então, vamos enviá-lo como missionário.
No entanto, como deve ser encarado o ministério missionário? Qual deve ser a disposição da igreja em relação ao ministério missionário? O que o ministério missionário exige do missionário no campo transcultural?
2. Ministério missionário encarado como uma extensão do ministério da igreja.
No relato de Lucas em At 11.19-30 e 12.25-13.3 percebemos o forte vínculo que existia entre a igreja de Antioquia e os seus missionários. Em primeiro lugar, Barnabé e Saulo, antes de serem enviados ao campo missionário, prestaram um grandioso serviço na igreja de Antioquia. Eles investiram tempo na evangelização, instrução, discipulado e crescimento espiritual dos cristãos daquela igreja ( At 11.22-26).
Em At 13.3, em obediência à direção do Espírito, a igreja de Antioquia não receia impôr as mãos sobre Barnabé e Saulo e enviá-los ao campo missionário. Com essa atitude ela estava se dispondo a ser conivente com os seus missionários e com a sua missão.
Dando uma olhada geral no livro de Atos, percebemos que esse vínculo entre a igreja e seus missionários não se rompeu com o envio e a partida dos mesmos ao campo. Pelo contrário, esse vínculo perdurou. Antioquia era o ponto de partida e o ponto de chegada de Barnabé e Saulo. Após terem concluído a primeira viagem missionária, eles retornaram para a sua igreja enviadora. Ali, deram um relatório do que Deus fizera por intermédio deles, e permaneceram um bom tempo na igreja (At 14.26-28). Após o concílio de Jerusalém, antes de darem início à segunda viagem missionária, Lucas registra que Paulo e Barnabé permaneceram algum tempo em Antioquia e ali ensinavam e pregavam a palavra do Senhor (At 15.35)
Quando lemos acerca dessa relação entre a Igreja de Antioquia e seus missionários a percepção que temos é que não havia uma dissociação entre o ministério missionário e o ministério da igreja; o ministério missionário era visto como uma extensão do ministério da igreja.
O ponto a ser ressaltado é exatamente este: o ministério missionário deve ser encarado como uma extensão do ministério da igreja, e não simplesmente como um trabalho ou uma obra que uma determinada igreja apóia e investe. Por não terem essa concepção do ministério missionário, alguns o vêem como uma “ameaça” às finanças de suas igrejas, e outros o encaram como um investimento que não traz nenhum retorno para as suas igrejas locais. Os que assim pensam, ainda que não tenham percebido, já absorveram completamente e já foram completamente absorvidos pelos valores de uma sociedade capitalista de tal maneira que querem fazer do Reino de Deus uma bolsa de valores.
É preciso que se tenha em mente que “investimento que traz retorno” na concepção de Deus, não é aquele que vai produzir um maior número de membros para as nossas igrejas locais, mas é aquele que vai arrebanhar um número maior de cidadãos para fazer parte do Reino de Deus. E, uma das maneiras de sanar essa concepção deturpada acerca do ministério missionário, é encará-lo como uma extensão do ministério da igreja e não como algo à parte dele.
Por amor à obra missionária em outros locais, a igreja de Antioquia teve que se dispôr a abrir mão dos serviços de dois de seus mestres mais destacados. Ela teve que se dispôr a abrir mão do que ela tinha de “melhor” em termos de recursos humanos.
Separem-me a Barnabé e a Saulo… O Espírito estava requerendo da igreja a disposição de abrir mão daquele (Barnabé) que já era reconhecido como um homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé (At 11.24), que era dotado da capacidade de exercer misericórdia, de encorajar e fortalecer os desanimados, e de acreditar no seu poder transformador (At 9.26-30); estava requendo também o envio daquele (Saulo) que era intrépido e ousado, cheio de amor por Cristo, e que não tinha a vida como preciosa para si mesmo (At 20.24; 21.13), daquele que era um profundo conhecedor das Escrituras e que era capaz de comunicar o evangelho de maneira relevante tanto para judeus como para gentios (At 13.13-32; 14.6-18; 17.15-31). Resumindo, o Espírito estava dizendo: separem-me o que vocês têm de “melhor” em termos de recursos humanos para que os envie para a obra missionária.
Contrariando a concepção de muitos acerca de missionário, o Espírito Santo escolheu e a igreja de Antioquia enviou aqueles que eram capazes. Aqueles que já haviam exercido um ministério abençoado e frutífero na igreja local, que gozavam da confiaça e do respeito por parte da igreja, que tinham uma boa reputação, que eram dotados de boas qualificações espirituais, morais, e, porque não acrescentar, intelectuais. Aqueles que dispunham de ferramentas mais apropriadas para exercer o ministério missionário transcultural.
Conclusão
Portanto, é necessário que haja na igreja e no seu líder uma concepção sadia acerca do ministério missionário; que o encarem como uma extensão do ministério da igreja; e que haja uma disposição de abrir mão e de enviar ao campo missionário aqueles que Deus escolhe e que eles (igreja e líderes) entendem que são os “melhores” recursos humanos de que dispõem. E se percebem que os seus candidatos ao campo missionário ainda não estão aptos, que incentivem e ofereçam as condições para que eles se aperfeiçoem e adquiram um melhor preparo.
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